Novas Abordagens no Tratamento do HIV Diante das Preocupações com a TB
Investigando o início da TAR em pacientes com HIV com suspeita de tuberculose.
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Índice
Ao longo dos anos, os esforços globais reduziram de forma significativa o número de novas infecções por HIV e mortes relacionadas à doença. Esse sucesso deve-se, em grande parte, ao maior acesso à Terapia Antirretroviral (TAR), especialmente em áreas com poucos recursos. A TAR envolve o uso de uma combinação de medicamentos para ajudar pessoas com HIV a terem uma vida mais saudável. A forma de fornecer esse tratamento se tornou mais organizada, permitindo maneiras mais rápidas e simples de começar a terapia.
Apesar desses avanços, o HIV ainda representa sérios desafios à saúde, continuando a ser uma das principais causas de doenças e mortes no mundo. Só em 2021, cerca de 650 mil pessoas morreram devido a causas relacionadas ao HIV. Entre os que vivem com HIV, a Tuberculose (TB) é a causa mais frequente de morte, contabilizando cerca de 187 mil óbitos no mesmo ano.
Início Rápido do Tratamento Antirretroviral
Desde 2017, organizações de saúde como a Organização Mundial da Saúde (OMS) aconselham que pessoas diagnosticadas com HIV comecem a TAR o mais rápido possível, idealmente dentro de uma semana após receberem os resultados dos testes. Essa iniciação rápida ajuda as pessoas a receberem o cuidado que precisam sem perder o acompanhamento, que é um problema comum. Muitos pacientes preferem iniciar a TAR no mesmo dia em que descobrem que são HIV positivos, ao invés de enfrentar atrasos.
No entanto, existem riscos em começar a TAR muito rapidamente, especialmente se pode haver outras infecções, como a TB, que não foram descartadas. Começar a TAR prematuramente pode levar a uma condição conhecida como síndrome da reconstituição imunológica inflamatória (IRIS), onde o corpo reage de forma intensa à recuperação da função imunológica, causando sintomas angustiantes ou piora de infecções já existentes.
O risco de desenvolver IRIS é maior para aqueles com níveis mais baixos de células CD4 (um tipo de glóbulo branco importante para o sistema imunológico), aqueles já infectados com infecções oportunistas como a TB, e aqueles que começam a TAR enquanto ainda têm essas infecções. Quando infecções do sistema nervoso central estão presentes, o risco é ainda maior.
Triagem para Tuberculose
Para as pessoas que vivem com HIV, é vital verificar os sintomas de TB. A OMS sugere um método de triagem simples chamado de triagem de quatro sintomas, que busca tosse, febre, suores noturnos e perda de peso. Se uma pessoa apresentar algum desses sintomas, é considerada com TB presumida e deve fazer testes para confirmar ou descartar a tuberculose ativa.
Pesquisas mostram que um número significativo de pessoas vivendo com HIV apresenta sintomas de TB, mas relativamente poucos testes confirmam a presença de TB ativa quando elas buscam cuidado para HIV pela primeira vez. Diretrizes anteriores da OMS viam os sintomas de TB ativa como um motivo para adiar a TAR até que a TB fosse confirmada ou descartada. Isso criou desafios para iniciar a TAR de maneira eficaz para muitos indivíduos.
Na prática, como muitas vezes é difícil confirmar rapidamente a TB, esse requisito bloqueou muitos pacientes de começarem a TAR prontamente. Embora possa ser razoável testar para TB antes de iniciar o tratamento em condições ideais, tais atrasos podem prejudicar os pacientes no mundo real, já que desestimulam os indivíduos de buscarem atendimento, aumentam riscos de mortalidade e acarretam encargos financeiros inesperados.
Para resolver isso, a OMS atualizou suas diretrizes em 2021, sugerindo que a TAR poderia ser iniciada para indivíduos com TB presumida, mas sem sinais de infecções do sistema nervoso central, enquanto se investiga a TB. Essa decisão foi tomada, mesmo que as evidências sobre adiar a TAR devido a sintomas de TB fossem limitadas, já que o impacto nos resultados de saúde não havia sido pesquisado de forma abrangente.
O Estudo SaDAPT
O estudo SaDAPT foi projetado para preencher lacunas no conhecimento sobre o início da TAR em pessoas com TB presumida. Ele compara duas abordagens: uma onde a TAR é iniciada imediatamente ("TAR primeiro") e outra onde a TAR começa apenas depois que os resultados dos testes de TB estão disponíveis ("resultados de TB primeiro"). O objetivo é determinar qual método é mais eficaz para alcançar a Supressão Viral (manter a quantidade de HIV no corpo baixa) e avaliar outros resultados de saúde, como mortalidade e possíveis efeitos colaterais.
Design e Local
O estudo SaDAPT está ocorrendo em clínicas de atenção primária em Blantyre, Malawi, e em várias localidades em Lesoto. As áreas têm altas taxas de HIV e TB. O estudo envolve indivíduos com 12 anos ou mais que não estão atualmente em TAR e apresentam sintomas de TB.
Elegibilidade e Inscrição
As pessoas interessadas no estudo passam por uma triagem para determinar se se qualificam. Aqueles com condições médicas mais sérias ou sinais de infecções do sistema nervoso central não são elegíveis. Após confirmar a elegibilidade, os participantes precisam dar consentimento. O estudo trabalha para garantir que os dados sejam capturados de forma precisa e segura por meio de um sistema eletrônico.
Randomização e Cegamento
Os participantes são colocados em um dos dois grupos de tratamento usando um processo de seleção aleatória. Devido à forma como o estudo está estruturado, nem os participantes nem os prestadores de cuidados de saúde podem ser cegados quanto ao tratamento que recebem. No entanto, a equipe de laboratório que analisa os resultados é mantida sem conhecimento sobre a qual grupo os participantes pertencem, garantindo objetividade nas descobertas.
Intervenção do Estudo
Os dois grupos no estudo são os seguintes:
Grupo Resultados de TB Primeiro
Nesta abordagem, a TAR é iniciada apenas depois que os testes de TB são concluídos e os resultados são conhecidos. O objetivo é iniciar a TAR dentro de sete dias após a primeira visita à clínica.
Grupo TAR Primeiro
Neste método, a TAR é oferecida imediatamente, independentemente de os testes de TB terem sido concluídos. A equipe de saúde informa os participantes sobre os resultados do teste de TB assim que eles ficam disponíveis.
Acompanhamento e Avaliações
O principal resultado do estudo é medir quantos participantes alcançam a supressão viral dentro de seis meses após a inscrição. Os resultados secundários incluirão a rapidez com que a TAR é iniciada, a retenção no cuidado e questões de saúde adicionais.
Os participantes são aconselhados a relatar quaisquer mudanças de saúde ou internações durante o período de acompanhamento. A equipe do estudo monitorará eventos de saúde relevantes sem intervir no processo de cuidado regular.
Gestão e Monitoramento de Dados
Os dados são coletados por meio de sistemas eletrônicos seguros, garantindo confidencialidade e integridade. O progresso do estudo é supervisionado por especialistas independentes que revisarão quaisquer eventos de saúde graves que ocorram durante o estudo, garantindo a segurança dos participantes.
Considerações Éticas
O estudo recebeu aprovação de vários comitês de ética, garantindo que os direitos e o bem-estar dos participantes sejam protegidos durante todo o estudo. Os participantes são informados sobre os riscos e benefícios potenciais de cada abordagem de tratamento.
O estudo visa descobrir qual abordagem para o início da TAR é mais segura e eficaz para indivíduos com TB presumida. Ele equilibra a necessidade de um tratamento oportuno contra os riscos associados a começar a TAR muito cedo.
Coorte de Início da TAR
Junto com o estudo SaDAPT, um estudo de coorte observacional está sendo conduzido para coletar informações sobre pessoas que iniciam a TAR nas mesmas instalações de saúde, mas que não têm sintomas de TB. Esses dados adicionais fornecerão uma visão do contexto mais amplo do início da TAR e do impacto dos sintomas de TB nos resultados.
Conclusão
O estudo SaDAPT busca fornecer informações valiosas para ajudar a melhorar o cuidado de pessoas vivendo com HIV e TB, particularmente em ambientes com recursos limitados. Ao compreender as melhores formas de iniciar a TAR no contexto da TB, o estudo visa orientar práticas de saúde futuras e melhorar os resultados de saúde para os afetados. Através de pesquisas cuidadosas, o estudo espera ter um impacto significativo nas estratégias de tratamento do HIV daqui pra frente.
Título: Same-day versus rapid ART initiation in HIV-positive individuals presenting with symptoms of tuberculosis: protocol for an open-label randomized non-inferiority trial in Lesotho and Malawi
Resumo: BackgroundIn absence of contraindications, same-day initiation (SDI) of antiretroviral therapy (ART) is recommended for people testing HIV-positive who are ready to start treatment. Until 2021, World Health Organization (WHO) guidelines considered the presence of TB symptoms (presumptive TB) a contraindication to SDI due to the risk of TB-immune reconstitution inflammatory syndrome (TB-IRIS). To reduce TB-IRIS risk, ART initiation was recommended to be postponed until results of TB investigations were available, and TB treatment initiated if active TB was confirmed. In 2021, the WHO guidelines changed to recommending SDI even in the presence of TB symptoms without awaiting results of TB investigations based on the assumption that TB investigations often unnecessarily delay ART initiation, increasing the risk for pre-ART attrition from care, and noting that the clinical relevance of TB- IRIS outside the central nervous system remains unclear. However, this guideline change was not based on conclusive evidence, and it remains unclear whether SDI of ART or TB test results should be prioritized in people with HIV (PWH) and presumptive TB. Design and methodsSaDAPT is an open-label, pragmatic, parallel, 1:1 individually randomized, non-inferiority trial comparing two strategies for the timing of ART initiation in PWH with presumptive TB ("ART first" versus "TB results first"). PWH in Lesotho and Malawi, aged 12 years and older (re)initiating ART who have at least one TB symptom (cough, fever, night sweats or weight loss) and no signs of intracranial infection are eligible. After a baseline assessment, participants in the "ART first" arm will be offered SDI of ART, while those in the "TB results first" arm will be offered ART only after active TB has been confirmed or refuted. We hypothesize that the "ART first" approach is safe and non-inferior to the "TB results first" approach with regard to HIV viral suppression (
Autores: Felix Gerber, R. Semphere, B. Lukau, P. Mahlatsi, T. Mtenga, T. Lee, M. Kohler, T. R. Glass, A. Amstutz, M. Molatelle, P. MacPherson, N. B. Marake, M. Nliwasa, I. Ayakaka, R. Burke, N. Labhardt
Última atualização: 2023-07-12 00:00:00
Idioma: English
Fonte URL: https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2023.07.10.23292457
Fonte PDF: https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2023.07.10.23292457.full.pdf
Licença: https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
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