Avaliando Índices Dietéticos na França: Percepções e Desafios
Um estudo avalia vários índices alimentares com base na dieta EAT-Lancet na França.
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Hoje em dia, as políticas globais estão focando em como a comida impacta a saúde e o meio ambiente. O objetivo é garantir que as pessoas tenham acesso a alimentos nutritivos enquanto cuidam do nosso planeta. Organizações como a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) defendem sistemas alimentares que sejam saudáveis, sustentáveis, acessíveis e culturalmente adequados. Esses esforços estão ligados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que visam eliminar a fome e melhorar a saúde nutricional em todo o mundo.
Apesar dessas iniciativas, os desafios continuam. As práticas de produção de alimentos ameaçam os recursos limitados da Terra e contribuem significativamente para as mudanças climáticas. Os sistemas alimentares abrangem tudo, desde como a comida é produzida até como é consumida, e afetam não só a saúde individual, mas também o bem-estar econômico e social, além do meio ambiente. Uma quantidade impressionante de um terço das emissões de gases de efeito estufa vem dos sistemas alimentares, junto com um uso significativo de água, poluição e perda de biodiversidade.
Para ajudar a enfrentar esses desafios, a Comissão EAT-Lancet propôs uma dieta de saúde planetária em 2019. Essa dieta oferece diretrizes para um padrão alimentar equilibrado e ambientalmente amigável, baseado na ingestão calórica diária. O foco é consumir bastante vegetais, frutas, leguminosas, grãos integrais, nozes e peixes, enquanto limita-se o consumo de carne vermelha e alimentos processados. A dieta também incentiva o consumo moderado de ovos, aves e laticínios.
Embora a dieta de saúde planetária sirva como um guia útil, críticos argumentam que pode não ser prático para todo mundo, especialmente em regiões mais pobres. Além disso, a dieta é voltada principalmente para adultos, o que pode não ser adequado para grupos vulneráveis como crianças e idosos.
Medir como as pessoas seguem a dieta de saúde planetária tem se mostrado difícil. Vários métodos foram criados para isso, mas não há consenso sobre a melhor abordagem. Alguns métodos iniciais usaram um sistema de pontuação simples para acompanhar a adesão, criando índices como o EAT-Lancet Diet Score (ELDS) e o Healthy and Sustainable Diet Index (HSDI). Embora essas ferramentas mostrem alguma relação com os resultados de saúde, sua validade geral ainda está em dúvida.
Índices dietéticos mais recentes melhoraram seus sistemas de pontuação e incorporaram fatores como a ingestão de energia, tornando-os mais adaptáveis. Por exemplo, o World Index for Sustainability and Health (WISH) e o Planetary Health Diet Index (PHDI) mostraram conexões positivas com indicadores de saúde. No entanto, lacunas sobre a validade desses índices persistem, e eles não foram comparados de forma abrangente.
Atualmente, falta uma pesquisa robusta sobre as propriedades de medição desses índices dietéticos. Alguns índices, como PHDI e ELD-I, passaram por alguma validação, mas muitos outros não foram testados de forma abrangente. Isso é importante, pois muitos índices podem representar mal a população devido a como foram projetados ou quem foi incluído nos estudos.
Diante desses desafios, o objetivo deste estudo é avaliar e comparar a eficácia de seis índices dietéticos com base na dieta de referência da EAT-Lancet usando uma amostra representativa da França.
Materiais e Métodos
Fontes de Dados
Os dados deste estudo vêm do Terceiro Estudo Individual e Nacional sobre Consumo Alimentar da França (INCA3), que é uma pesquisa representativa nacionalmente. Esta pesquisa incluiu 4.114 indivíduos vivendo na França e foi realizada entre fevereiro de 2014 e setembro de 2015. Foram incluídos participantes com 18 anos ou mais, enquanto aqueles que relataram incorretamente sua ingestão alimentar foram excluídos. No final, a amostra final consistiu de 1.723 adultos.
O estudo INCA3 seguiu diretrizes éticas e recebeu aprovação das autoridades relevantes. Os participantes deram consentimento verbal antes de participar do estudo.
Avaliação da Ingestão Alimentar
As informações dietéticas foram obtidas por meio de três recordações alimentares não consecutivas realizadas ao longo de três semanas. Os participantes relataram todos os alimentos e bebidas consumidos no dia anterior. Essa avaliação usou fotografias validadas de tamanhos de porções padrão específicas da França, e nenhum aviso prévio foi dado sobre os dias de avaliação para garantir um relato preciso.
Índices Dietéticos
Seis índices dietéticos foram usados para medir a adesão à dieta EAT-Lancet:
World Index for Sustainability and Health (WISH): Este índice pontua 13 componentes alimentares em uma escala de 0 (não conformidade) a 10 (total conformidade). A pontuação total pode chegar até 130 pontos, com pontuações mais altas indicando melhor adesão.
Planetary Health Diet Index (PHDI): Este índice consiste em 16 componentes alimentares e usa um sistema de pontuação baseado em proporções de ingestão de energia. A pontuação total pode atingir 150 pontos.
EAT-Lancet Diet Index (ELD-I): Este índice utiliza 14 componentes alimentares para calcular uma pontuação não limitada, que pode ser positiva ou negativa. Pontuações mais altas indicam melhor adesão às recomendações da EAT-Lancet.
EAT-Lancet Index (ELI): Composto por 14 componentes divididos em grupos positivos e negativos, este índice utiliza um sistema de pontuação semi-quantitativa. A pontuação total pode chegar a 42 pontos.
Healthy and Sustainable Diet Index (HSDI): Este índice emprega um sistema de pontuação binária onde a adesão é medida pela porcentagem de ingestão de energia proveniente de 13 componentes alimentares, com pontuações variando de 0 a 13.
EAT-Lancet Diet Score (ELDS): Semelhante ao HSDI, este índice usa pontuação binária para 14 componentes, com pontuações totais variando de 0 a 14.
Impacto Ambiental
Avaliação da Qualidade Nutricional ePara avaliar a adequação nutricional, vários índices de qualidade dietética foram calculados, incluindo a Probabilidade de Adequação Nutricional (PANDiet), a Pontuação de Qualidade Global da Dieta (GDQS), o Índice de Qualidade da Dieta Abrangente (cDQI), o Índice Inflamatório da Dieta (DII) e o Índice Composto de Antioxidantes Dietéticos (CDAI). Essas pontuações fornecem insights sobre a qualidade nutricional das dietas dos participantes.
O impacto ambiental das escolhas dietéticas foi avaliado usando o banco de dados Agribalyse 3.1.1, que fornece dados de referência sobre os impactos ambientais de produtos agrícolas e alimentares. A análise incluiu emissões de gases de efeito estufa, uso de recursos e outras métricas ambientais.
Análise Estatística
Os dados foram analisados usando software estatístico. Médias e desvios padrão foram calculados para dados numéricos, enquanto porcentagens foram determinadas para dados categóricos. Coeficientes de correlação foram usados para examinar relações entre índices e ingestão alimentar, assim como sua associação com fatores sociodemográficos.
Além disso, a confiabilidade de cada índice foi avaliada examinando a consistência interna dos componentes alimentares e sua correlação com as pontuações totais. A validade estrutural dos índices foi avaliada por meio de técnicas de modelagem.
Características dos Participantes
Os seis índices dietéticos mostraram distribuição normal entre os participantes. As pontuações variaram bastante, com alguns componentes alimentares como vegetais e frutas pontuando mais alto do que outros como grãos integrais e leguminosas. Diferenças nas pontuações também foram observadas com base em características sociodemográficas, com mulheres e indivíduos mais velhos geralmente pontuando mais alto.
Resultados
Características Descritivas
No geral, os seis índices demonstraram distribuições normais. Para o índice WISH, as pontuações variaram de 2 a 97 pontos, com uma média de 40,42 pontos. O PHDI apresentou uma pontuação total média de 34,78 pontos, enquanto o ELD-I teve uma média de -3,18 pontos. Os índices que usaram pontuação binária, como HSDI e ELDS, mostraram pontuações médias mais baixas.
Confiabilidade e Validade Estrutural
Entre os índices, o ELD-I teve a melhor consistência interna. A validade estrutural de todos os índices foi confirmada, mostrando que eles representam um único conceito de dieta saudável e sustentável. As medidas de consistência interna indicaram que os componentes alimentares dentro de cada índice contribuem significativamente para a pontuação total.
Variabilidade do Índice e Independência Energética
O estudo analisou como cada índice capturou a variabilidade dietética. O ELD-I mostrou a maior diferença entre pontuações baixas e altas. A ingestão total de energia teve correlação mínima com a maioria dos índices, indicando que os níveis de adesão poderiam ser avaliados independentemente da ingestão calórica.
Concordância entre Índices
A concordância entre os seis índices foi baixa, sugerindo que os indivíduos não classificam consistentemente da mesma forma em diferentes sistemas de pontuação. Isso destaca a importância de considerar as diferenças metodológicas ao interpretar os resultados.
Validade Concurrente-Critério
Os resultados mostraram diferenças significativas nas pontuações com base em fatores sociodemográficos. Mulheres, indivíduos mais velhos e aqueles com níveis de renda e educação mais altos tipicamente pontuaram melhor nos índices. Essas descobertas apoiam a validade concorrente dos índices dietéticos.
Validade Convergente: Nutrição e Impacto Ambiental
Ao comparar os índices com medidas nutricionais, os sistemas de pontuação quantitativa mostraram melhor correlação com indicadores de qualidade nutricional. Os índices como WISH e PHDI emergiram como ferramentas relevantes na promoção da adequação alimentar. Da mesma forma, os índices tiveram correlação negativa com métricas de impacto ambiental.
Tendências Entre Níveis de Adesão
A análise revelou uma tendência clara mostrando que maior adesão aos índices estava associada a melhores pontuações de adequação nutricional e menores impactos ambientais. Embora os achados variem entre os índices, eles destacaram consistentemente a necessidade de melhorias na dieta.
Discussão
Este estudo é significativo na avaliação da eficácia de vários índices dietéticos que avaliam a adesão à dieta de referência da EAT-Lancet na França. As forças e fraquezas dos índices foram reveladas, destacando seu papel potencial na saúde pública e na sustentabilidade ambiental.
As descobertas indicam que índices de pontuação quantitativa, como ELD-I, mostram melhor confiabilidade e validade do que aqueles baseados em pontuação binária. Isso sugere que futuras ferramentas de avaliação dietética devem priorizar a captura das nuances dos padrões de ingestão de alimentos para refletir com precisão a adesão às diretrizes dietéticas.
Além disso, o estudo ressalta a importância de considerar os diferentes componentes alimentares e seus impactos variáveis na saúde e no meio ambiente. Embora todos os componentes contribuam para a pontuação geral, nem todos têm a mesma importância. Isso indica a necessidade de uma abordagem refinada para atribuir pesos a diferentes componentes com base em seus efeitos sobre a saúde e o meio ambiente.
As descobertas também enfatizam a necessidade contínua de pesquisas que examinem a associação entre adesão dietética e resultados de saúde. Futuros estudos devem explorar como esses índices podem ser vinculados a questões de saúde específicas e doenças, melhorando nossa compreensão do impacto da dieta no bem-estar geral.
Limitações
Embora o estudo ofereça insights valiosos, enfrenta limitações. O design transversal restringe as conclusões sobre causalidade, e a falta de dados sobre resultados de saúde significa que previsões sobre relacionamentos não podem ser feitas. Além disso, desafios na gravação precisa da ingestão dietética podem introduzir erros na estimativa dos padrões de consumo da população.
Conclusão
Este estudo demonstra o complexo cenário da medição da adesão dietética usando as recomendações da EAT-Lancet. Ao comparar seis índices diferentes em uma amostra representativa, destaca a necessidade de critérios e metodologias claras no desenvolvimento de ferramentas de avaliação dietética. O desenvolvimento futuro de índices dietéticos deve buscar um equilíbrio entre a captura da variabilidade dietética e a facilidade de aplicação em cenários de saúde pública.
À medida que este campo evolui, é vital manter o foco na criação de índices que reflitam as nuances dos hábitos alimentares enquanto apoiam metas de saúde e sustentabilidade.
Título: How do the indices based on the EAT-Lancet recommendations measure adherence to healthy and sustainable diets? A comparison of measurement performance in adults from a French national survey
Resumo: Measuring adherence to EAT-Lancet recommendations for healthy and sustainable diets is challenging, leading to diverse methods and a lack of consensus on standardized metrics. Available indices vary mainly in scoring systems, food components, units, energy adjustments, and cut-off points. We aimed to evaluate and compare the measurement performance of six dietary indices for assessing adherence to EAT-Lancet reference diet. Food consumption data of 1,723 adults were obtained from the French Third Individual and National Study on Food Consumption Survey (INCA3, 2014-2015). Sociodemographic, nutritional, and environmental data were used to assess the validity and reliability of dietary indices. Results showed that the four indices assessing their food components with quantitative scoring captured dietary variability, were less dependent on energy intake and converged to a large extent with nutritional indicators. While the two binary indices showed a stronger correlation with environmental indicators, one quantitative index converged with both domains. Indices had valid unidimensional structures, meaning that the combination of food components within each index accurately reflects the same construct and supporting the use of total scores. Furthermore, the indices differed between sociodemographic groups, demonstrating concurrent criterion validity. Higher scores were associated with higher nutritional quality and lower environmental impact, but with unfavourable results for zinc intake, vitamin B12 and water use. A low concordance rate (from 32% to 43%) indicated that indices categorized individuals differently. Researchers must align study objectives with the applicability, assumptions, and functional significance of chosen indices. Indices using quantitative scoring allow a global understanding of dietary health and sustainability, being advantageous in precision-focused research, such as clinical trials or epidemiological research. Conversely, indices based on binary scoring offer a simplified perspective, being valuable tools for surveys, observational studies, and public health. Recognizing their strengths and limitations is crucial for a comprehensive assessment of diets and understanding their implications.
Autores: Agustin R Miranda, F. Vieux, M. Maillot, E. O. Verger
Última atualização: 2024-05-14 00:00:00
Idioma: English
Fonte URL: https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2024.05.14.24307335
Fonte PDF: https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2024.05.14.24307335.full.pdf
Licença: https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
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