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# Ciências da saúde# Epidemiologia

Câncer de colo do útero no Brasil: O papel do HPV e os desafios de sobrevivência

Estudo analisa tipos de HPV e como eles influenciam a sobrevivência do câncer de colo de útero no Brasil.

Nadia Roberta Chaves Kappaun, P. Patury, F. B. Russomano, L. F. L. Martins, M. A. M. Moreira, R. B. M. Carvalho, L. M. de Almeida

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O câncer cervical (CC) ainda é um grande problema de saúde, especialmente em países menos desenvolvidos. Esse tipo de câncer pode ser prevenido com vacinas, detecção precoce e tratamento das suas formas iniciais. No Brasil, onde tem um sistema de rastreamento oportunista, muitas mulheres são diagnosticadas só depois de apresentarem sintomas graves. Essa demora afeta bastante as chances de sobrevivência e a qualidade de vida delas.

O câncer cervical é o terceiro tipo de câncer mais comum entre as mulheres brasileiras, excluindo o câncer de pele. Na verdade, espera-se que haja cerca de 17.010 novos casos de CC todo ano no Brasil de 2023 a 2025. Em 2021, a taxa de mortalidade foi de 6.627 óbitos.

Alguns fatores que podem influenciar o crescimento do câncer cervical são conhecidos, como a idade, o estágio do câncer no diagnóstico e a presença de certos tipos de células cancerígenas, mas o papel dos vírus do papiloma humano (HPV) na definição do prognóstico do câncer cervical ainda não é totalmente compreendido. Alguns estudos sugerem que detectar certos tipos de HPV pode ajudar a prever quão agressivo o câncer pode ser nas suas fases iniciais. Por outro lado, outros estudos dizem que o tipo de HPV não importa para o prognóstico do câncer cervical.

O tipo HPV 16 é o mais frequentemente associado ao câncer cervical. Existem diferentes linhagens do HPV 16, que foram inicialmente nomeadas com base em onde eram mais comuns. Nos últimos anos, elas foram categorizadas como A, B, C e D. Cada linhagem tem suas próprias características, sendo algumas ligadas a um risco maior de desenvolver câncer cervical do que outras.

Observou-se que as linhagens B, C e D do HPV 16 podem contribuir mais para a progressão de lesões cervicais precoces para câncer invasivo em comparação com a linhagem A. Além disso, a linhagem D foi identificada como particularmente ligada a infecções persistentes e ao avanço para o câncer.

Estudos recentes também sugeriram que a linhagem AA do HPV 16 mostra uma conexão com comportamentos de câncer mais agressivos. Outra pesquisa examinou um grupo de pacientes e encontrou uma presença notável das linhagens D3 e A4 nos casos de câncer cervical. Um outro estudo indicou que aqueles infectados com a linhagem B tinham taxas de sobrevivência mais baixas.

Dadas as inconsistências nos achados e o impacto potencial das diferenças populacionais e dos métodos de tratamento, um estudo recente teve como objetivo ver se as linhagens do HPV 16 presentes em pacientes brasileiros com câncer cervical afetam sua sobrevivência geral e o tempo sem progressão da doença.

Esse estudo foi realizado em um centro especializado em câncer no Brasil ao longo de vários anos. Os pesquisadores analisaram mulheres com 18 anos ou mais que foram diagnosticadas com câncer cervical em determinado estágio. Aqueles que já haviam sido tratados para câncer antes não foram incluídos. Durante o estudo, as informações clínicas dessas mulheres foram monitoradas por cerca de cinco anos.

Um total de 968 mulheres foi incluído no estudo, todas com 18 anos ou mais. Os tipos e linhagens do HPV nas amostras de câncer foram identificados para cerca de 594 pacientes. Algumas amostras não puderam ser analisadas por vários motivos, mas as amostras coletadas foram armazenadas para uso futuro.

Os tipos de HPV foram identificados usando uma técnica de laboratório padrão. A análise indicou que a maioria das mulheres carregava as linhagens A e D do HPV, enquanto apenas um pequeno número tinha linhagens B ou C.

Um questionário foi usado para coletar informações sobre a formação educacional e o contexto socioeconômico das participantes. Dados clínicos sobre seus Tratamentos e acompanhamentos também foram coletados.

Métodos estatísticos foram empregados para avaliar as relações entre as linhagens do HPV e outros fatores que afetam a sobrevivência das pacientes. O tempo desde o diagnóstico até a morte ou o último acompanhamento foi registrado para determinar as taxas de sobrevivência geral, enquanto os tempos de recidiva também foram monitorados.

A idade média das pacientes era de 48 anos. A maioria das mulheres tinha linhagem A, enquanto uma fração menor tinha linhagens B e C. O tipo mais comum de câncer cervical encontrado foi o carcinoma de células escamosas. Foi notado que uma alta porcentagem de pacientes não completou seu tratamento.

A taxa de sobrevivência geral foi monitorada, e o tempo médio de sobrevivência foi de 40,3 meses para as pacientes envolvidas. Aqueles com linhagem D tiveram um tempo médio de sobrevivência de 45,9 meses, enquanto pacientes com linhagem A tiveram uma média de 35,9 meses. No entanto, nenhuma diferença significativa foi encontrada entre as taxas de sobrevivência com base nas linhagens do HPV.

Vários fatores foram identificados que aumentaram o risco de morte entre os pacientes. A idade teve um papel significativo, onde o risco de morte aumentou em 1% a cada ano a mais de vida. O tipo de câncer também importou, com certos tipos histológicos mostrando taxas de mortalidade mais altas em comparação com adenocarcinoma. Pacientes diagnosticados em estágios avançados tinham um maior risco de morte, e aqueles que não completaram seu tratamento estavam em risco ainda maior.

O estudo descobriu que, embora as linhagens do HPV 16 não mostrassem conexões claras com os resultados de sobrevivência, a distribuição dessas linhagens pode ainda estar relacionada ao estágio do câncer no diagnóstico. Isso indicou que pacientes com certas linhagens tendiam a ser diagnosticadas em diferentes estágios da doença.

Ao observar as taxas de sobrevida livre de doença – quanto tempo os pacientes viveram sem que o câncer voltasse – o estudo encontrou que muitas pacientes tinham um período livre de doença curto. O estadiamento foi novamente a única variável significativamente ligada às chances de recidiva.

Essa pesquisa teve como objetivo determinar se diferentes cepas do HPV 16 afetam o prognóstico para o câncer cervical. No final das contas, idade, tipo de tumor, estágio do câncer e se a paciente completou o tratamento foram os principais fatores associados ao aumento do risco de morte.

Mesmo que nenhuma associação clara tenha sido encontrada entre as linhagens do HPV 16 e o prognóstico para o câncer cervical, o estudo indicou possíveis diferenças na prevalência das linhagens de acordo com o estágio da doença. É possível que o número limitado de casos para certas linhagens do HPV 16 tenha afetado a capacidade do estudo de encontrar diferenças significativas.

Em conclusão, esse estudo destacou que, embora as linhagens do HPV 16 não tenham mostrado uma forte ligação com os desfechos do câncer cervical, fatores como idade, tipo de tumor, estadiamento avançado e conclusão do tratamento foram críticos na determinação do prognóstico. Os achados enfatizam a importância da detecção precoce e da finalização do tratamento para melhores resultados em pacientes com câncer cervical. Mais estudos extensos são necessários para entender melhor os papéis potenciais de diferentes linhagens de HPV na progressão do câncer cervical e na sobrevivência das pacientes.

Fonte original

Título: Associations between genetic HPV 16 diversity and cervical cancer prognosis

Resumo: IntroductionCervical cancer (CC) arises as a result of chronic and persistent female genitalia infection by different oncogenic human papillomaviruses (HPV). The incidence of this disease is still high in developing countries such as Brazil, where the diagnosis is often made in advanced stages. HPV 16 is the most common type of CC worldwide. Studies concerning the association of different HPV 16 lineages with overall and disease-free CC survival rates can contribute to further understanding the behavior of different HPV 16 lineages concerning the prognosis of CC cases. ObjectiveAssess the CC prognosis of patients treated in a Brazilian institution with regard to HPV16 strains. MethodsData were obtained from a prospective cohort of 334 CC patients recruited between July 2011 and March 2014 and treated at the Brazilian National Cancer Institute (INCA), in Rio de Janeiro, Brazil. HPV 16 lineages were identified in tumor tissue samples. Genetic HPV 16 diversity comprised 218 cases of lineage A, 10 of lineage B, 10 of lineage C and 96 of lineage D. In addition to HPV 16 lineages, age, histopathological type, staging, and treatment completion were evaluated regarding CC prognosis. ResultsMedian patient age was 48 years old. The most common histopathological type was squamous cell carcinoma (82.3%), followed by adenocarcinoma. Locally advanced disease staging was the most frequently detected, represented by similar stage II and III percentages (36.2% and 37.7%), followed by initial stage I (19.2%) and stage IV presenting distant disease (6.9%). Only 187 patients completed CC treatment. Age, histological type, staging, and treatment completion were associated with a higher risk of death, which was not observed for the HPV 16 lineage variable. With regard to age, each one year of life increase led to about a 1% increase in risk of death. Other histopathological types (poorly differentiated carcinoma, adenosquamous, neuroendocrine and sarcoma) were associated with a higher risk of death compared to adenocarcinoma. Squamous cell carcinoma also represented a higher risk of death compared to adenocarcinoma, albeit non-statistically significant. Patients diagnosed in advanced stages exhibited a higher risk of death, and those who did not complete treatment exhibited an over 2-fold increased risk of death. ConclusionThis study found no associations between HPV 16 lineages A, B, C and D and CC prognosis.

Autores: Nadia Roberta Chaves Kappaun, P. Patury, F. B. Russomano, L. F. L. Martins, M. A. M. Moreira, R. B. M. Carvalho, L. M. de Almeida

Última atualização: 2024-08-03 00:00:00

Idioma: English

Fonte URL: https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2024.08.02.24311429

Fonte PDF: https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2024.08.02.24311429.full.pdf

Licença: https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/

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