Desafios de Saúde Mental em Mulheres no Pós-Parto Durante a COVID-19
Um estudo revela que a depressão pós-parto e a insônia estão aumentando na Argentina durante a pandemia.
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A pandemia de COVID-19 mudou a rotina das pessoas no mundo todo. As ações dos governos para conter a disseminação do vírus, junto com o medo e a sensação de perda, aumentaram o Estresse para muita gente. Como resultado, os problemas de saúde mental, incluindo depressão e ansiedade, aumentaram, especialmente entre grupos vulneráveis. Um grupo que foi bastante afetado são as mulheres que acabaram de dar à luz. Durante a pandemia, várias mulheres enfrentaram um estresse elevado, o que levou a um aumento da Depressão Pós-Parto.
A depressão pós-parto é um problema de saúde mental comum que pode afetar mulheres após o parto. Ela pode impactar a relação entre mãe e filho e a dinâmica familiar como um todo. Os sintomas podem incluir tristeza, falta de interesse em atividades, problemas de sono e alimentação, baixa energia, culpa, dificuldade de concentração, irritabilidade e, em casos graves, pensamentos de automutilação. Antes da pandemia, cerca de 17% das mães de primeira viagem enfrentavam depressão pós-parto. Porém, estudos durante a pandemia mostraram que esse número aumentou significativamente, chegando a entre 28% e 34% em diferentes lugares. Na Argentina, um estudo revelou que 37% das mulheres pós-parto relataram se sentir deprimidas nos primeiros estágios da pandemia.
Além da depressão, muitas mulheres também lidaram com problemas de sono. Pesquisas indicam que cerca de 44% das pessoas no mundo todo sofreram com insônia durante o primeiro ano da pandemia. Para as mulheres pós-parto, essa porcentagem foi ainda maior, variando de 34% a 49%. Na Argentina, relatos mostraram que quase metade das mulheres que estavam no pós-parto enfrentaram insônia durante a primeira onda de COVID-19.
Os níveis aumentados de estresse, ansiedade e depressão estão diretamente relacionados aos desafios trazidos pela pandemia. Esses desafios incluem preocupações com a saúde, isolamento, dificuldades econômicas e a imprevisibilidade da situação. Os níveis de estresse foram encontrados em torno de 45% a 50% para a população em geral durante a pandemia, com as mulheres no pós-parto enfrentando taxas de estresse ainda mais altas.
Diante dessas tendências preocupantes, o objetivo desta pesquisa foi analisar como a saúde mental das mulheres no pós-parto na Argentina mudou durante as três primeiras ondas de COVID-19. A ideia era identificar fatores que colocavam as mulheres em risco de problemas de saúde mental, assim como aqueles que poderiam ajudar a protegê-las.
Materiais e Métodos
Participantes e Design do Estudo
Para esta pesquisa, mulheres que haviam dado à luz no último ano foram convidadas a participar através de questionários online em três ondas diferentes de COVID-19 na Argentina. A primeira onda contou com 319 mulheres, a segunda 340 mulheres e a terceira 341 mulheres. As participantes foram recrutadas em hospitais públicos, clínicas privadas e comunidades online. Para participar, as mulheres precisavam ter pelo menos 18 anos, morar na Argentina e estar no primeiro ano após o parto. Todas concordaram por escrito antes de participar da pesquisa.
Avaliando a Saúde Mental
Os pesquisadores usaram várias pesquisas para avaliar as condições de saúde mental entre as participantes:
Escala de Triagem de Depressão Pós-Parto (PDSS-SF): Este questionário de 7 itens pergunta sobre os sintomas vivenciados nas últimas duas semanas, incluindo distúrbios de sono e alimentação, ansiedade, instabilidade emocional e pensamentos suicidas. As pontuações variam de 7 a 35, com pontuações mais altas indicando depressão mais severa.
Índice de Gravidade da Insônia (ISI): Esta ferramenta avalia a gravidade e o impacto da insônia no último mês. É composta por 7 itens, e as pontuações variam de 0 a 28, com pontuações mais altas refletindo insônia mais severa.
Escala de Estresse Percebido (PSS-C): Esta escala de 10 itens mede o estresse vivenciado no mês anterior relacionado a situações da pandemia. As pontuações variam de 0 a 40, com pontuações mais altas indicando níveis mais altos de estresse.
Informações Adicionais Coletadas
As participantes também forneceram informações sobre sua idade, estado civil, nível de educação, situação de Emprego, seguro de saúde, tipo de parto, número de filhos e práticas de amamentação.
Análise Estatística
Os pesquisadores usaram software estatístico para analisar os resultados. Eles investigaram mudanças na prevalência de problemas de saúde mental ao longo do tempo e como diferentes fatores influenciaram essas taxas. Avaliaram a confiabilidade das pesquisas e realizaram regressão logística multivariada para encontrar conexões entre as condições de saúde mental e os diversos fatores coletados.
Resultados
Características da Amostra do Estudo
A maioria das mulheres no estudo tinha menos de 35 anos e havia completado pelo menos 12 anos de educação. A maioria morava em áreas urbanas importantes da Argentina. Muitas estavam empregadas e recebiam seguro de saúde. Os achados mostraram que o número de membros da família morando juntos teve um papel significativo na saúde mental delas.
Prevalência de Problemas de Saúde Mental
Os resultados indicaram que os sintomas de depressão pós-parto e insônia aumentaram significativamente durante as três ondas de COVID-19. A prevalência geral da depressão pós-parto foi de cerca de 47%, com números subindo de 36% na primeira onda para mais de 60% na terceira onda. A insônia também mostrou uma tendência semelhante, começando em torno de 46% e aumentando para quase 62%.
Fatores que Afetam a Saúde Mental
Diversos fatores foram encontrados como influenciadores da saúde mental das mulheres no pós-parto:
Emprego: Mulheres que estavam empregadas tinham um risco menor de experimentar depressão pós-parto. Em contrapartida, aquelas que trabalhavam de casa eram mais propensas a relatar sentimentos de depressão.
Relações Interpessoais: Mulheres que moravam com mais membros da família relataram menos sintomas de depressão e insônia em comparação com aquelas que moravam sozinhas ou com menos pessoas.
Apoio Médico: Mulheres que receberam apoio médico para amamentação observaram uma diminuição nos sintomas de ansiedade e depressão.
Características Maternas: Mulheres mais velhas, aquelas com múltiplos filhos e mulheres que haviam sofrido perda gestacional eram mais propensas a relatar insônia.
Mudanças ao Longo do Tempo
O impacto da pandemia na saúde mental evoluiu com o tempo. Enquanto a depressão pós-parto e a insônia aumentavam, a percepção geral do estresse relacionado à pandemia diminuía com o passar do tempo. Além disso, as mulheres se tornaram melhores em lidar com o estresse relacionado à pandemia. No entanto, a depressão pós-parto e a insônia continuaram altas, apesar dessa melhora na gestão do estresse.
Modelagem de Equações Estruturais
A análise usando modelagem de equações estruturais revelou que a duração da pandemia teve um efeito direto na depressão pós-parto. A insônia foi influenciada principalmente pelos níveis de depressão vivenciados. O estresse relacionado à pandemia também afetou a depressão e, em menor grau, a insônia.
Discussão
Impacto do COVID-19 na Saúde Mental
Os achados deste estudo mostram claramente como a pandemia de COVID-19 piorou a saúde mental das mulheres no pós-parto na Argentina. Os aumentos observados na depressão pós-parto e insônia durante a pandemia destacam os efeitos duradouros de crises globais no bem-estar mental das pessoas.
Importância do Emprego e do Apoio
Os resultados enfatizam o papel do emprego e do apoio social na manutenção da saúde mental. Mulheres empregadas tinham um risco menor de depressão pós-parto, sugerindo que a segurança no emprego e um senso de propósito podem atuar como fatores de proteção. Além disso, o apoio médico durante a amamentação reduziu significativamente a ansiedade e a depressão, ressaltando a necessidade de os sistemas de saúde fornecerem suporte adequado durante tempos difíceis.
Redes de Apoio Social
Morar com membros da família pode ajudar a enfrentar as dificuldades de saúde mental durante a pandemia. O estudo constatou que mulheres que viviam com mais pessoas eram menos propensas a experimentar sintomas severos. Isso sugere que as relações sociais desempenham um papel crucial no bem-estar mental, oferecendo apoio emocional em tempos de incerteza.
Mecanismos de Enfrentamento
Curiosamente, enquanto o estresse percebido como um todo diminuiu com o tempo, isso não se traduziu em uma redução da depressão pós-parto e da insônia. As mulheres conseguiram se adaptar melhor aos estressores da pandemia, mas os desafios de saúde mental persistiram. Isso indica que, embora a resiliência possa melhorar em algumas áreas, problemas específicos de saúde mental podem precisar de intervenções mais focadas.
Recomendações para Apoio Futuro
Os achados apontam para várias recomendações para melhorar o suporte à saúde mental das mulheres no pós-parto:
Aumento do Acesso a Serviços de Saúde Mental: Deve haver maior acesso a serviços de aconselhamento e suporte focados na saúde mental pós-parto. Isso é vital para abordar as altas taxas de depressão e insônia.
Treinamento de Profissionais de Saúde: Os profissionais de saúde devem ser treinados para reconhecer e apoiar mulheres que enfrentam desafios de saúde mental durante o período pós-parto, especialmente em crises como a pandemia.
Programas de Apoio Comunitário: Programas que promovam conexões sociais entre novas mães poderiam ajudar a fornecer o apoio emocional necessário durante tempos desafiadores.
Intervenções Personalizadas: Estratégias de saúde mental devem ser adaptadas para enfrentar os desafios únicos enfrentados pelas mulheres no pós-parto, especialmente em situações semelhantes a pandemias.
Conclusão
Este estudo revela o impacto significativo da pandemia de COVID-19 na saúde mental das mulheres no pós-parto na Argentina. Os achados mostram um aumento preocupante na depressão pós-parto e insônia, ligados a vários fatores, incluindo situação de emprego, apoio social e assistência médica. Embora tenha havido uma melhora na forma de lidar com o estresse relacionado à pandemia, os desafios de saúde mental continuam críticos e requerem suporte direcionado. À medida que o mundo continua a lidar com as repercussões da pandemia, priorizar a saúde mental das mulheres no pós-parto será essencial para garantir o bem-estar delas e de suas famílias.
Título: Two-years mothering into the pandemic: Impact of the three COVID-19 waves in the Argentinian postpartum womens mental health
Resumo: The COVID-19 pandemic disproportionately affects certain vulnerable groups, including postpartum women. Thus, this work aimed to analyze the mental health evolution in Argentinian postpartum women during the first three waves of COVID-19 and its determinants. In this repeated cross-sectional study, data were collected during the three waves of COVID-19: May-July/2020 (n=319), April-August/2021 (n=340), and December/2021-March/2022 (n=341). Postpartum depression (PDSS-SF), insomnia (ISI), and perceived stress symptoms (PSS-C) were used. Statistical analyses included multivariate logistic regression, analysis of variance, and structural equation modeling to test for temporal trends in mental health indicators during the pandemic and to identify their determinants. The prevalence rates of postpartum depression and insomnia rose from 37% to 60% and 46% to 62%, respectively. In contrast, pandemic-related stress decreased. Certain factors increased maternal risk of mental symptoms: unemployment status, no medical support, reduced family size, remote working, advanced maternal age, late postpartum, multiparity, and living in the least developed region of Argentina. Structural equation modeling confirmed a process of pandemic-stress adaptation, although there is a persistent increment of postpartum depression and consequent increased insomnia. Postpartum womens mental health was worsened during the COVID-19 pandemic. Although women have become more able to cope and perceive less pandemic-related stress, its social and economic impact still persists and puts them at higher psychological risk. Thus, health systems must ensure the womens well-being to deal with current and future consequences of this epidemiological scenario.
Autores: Agustin Ramiro Miranda, A. V. Scotta, M. V. Cortez, E. A. Soria
Última atualização: 2023-10-31 00:00:00
Idioma: English
Fonte URL: https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2023.10.30.23297772
Fonte PDF: https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2023.10.30.23297772.full.pdf
Licença: https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
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