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Bactérias do intestino e mutagênicos orgânicos: uma relação complexa

Analisando como as bactérias do intestino afetam o metabolismo de mutagênicos orgânicos e o risco de câncer.

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Índice

Mutágenos orgânicos são substâncias que podem causar mudanças no DNA e levar ao Câncer. Eles vêm de várias fontes, incluindo certos alimentos e fatores ambientais. Por exemplo, cozinhar carne em altas temperaturas pode criar compostos prejudiciais, enquanto a fumaça de cigarro e a água poluída podem introduzir outros produtos químicos perigosos em nossos corpos. Uma vez que esses mutágenos entram no corpo, eles podem ser decompostos por várias Enzimas, o que geralmente os torna mais fáceis de eliminar. No entanto, em alguns casos, essa decomposição pode transformá-los em substâncias ainda mais prejudiciais, aumentando o risco de causar câncer.

Curiosamente, as Bactérias que vivem no nosso intestino, conhecidas como microbiota intestinal, podem também desempenhar um papel em como nosso corpo processa esses produtos químicos nocivos. Essas bactérias intestinais têm muitos genes que ajudam a decompor diferentes compostos. Alguns estudos mostram que mudanças na microbiota intestinal podem estar ligadas ao desenvolvimento de câncer. Porém, ainda não sabemos o suficiente sobre como essas bactérias afetam o risco de câncer em relação aos mutágenos. Este estudo pretende explorar como as bactérias intestinais interagem com diferentes mutágenos orgânicos e como isso afeta o potencial risco de câncer.

Objetivos

O principal objetivo deste estudo é avaliar quão bem diversas bactérias intestinais conseguem decompor mutágenos orgânicos e como isso afeta seu potencial de causar danos ao DNA. Vamos usar um método de alto desempenho para analisar diferentes tipos de mutágenos e medir como o Metabolismo bacteriano muda seus efeitos nocivos. Além disso, vamos examinar as interações entre as bactérias intestinais e as enzimas humanas para entender melhor como esses processos funcionam juntos.

Triagem de Mutágenos Orgânicos

Para estudar os efeitos das bactérias intestinais sobre os mutágenos orgânicos, escolhemos uma variedade de 68 produtos químicos diferentes conhecidos por causar danos ao DNA. Esses produtos químicos foram selecionados com base em pesquisas anteriores que indicavam seus efeitos mutagênicos. Também incluímos compostos encontrados na fumaça de cigarro, resíduos industriais e certos medicamentos. Ao examinar essa ampla gama, podemos entender melhor como as bactérias intestinais interagem com diferentes tipos de mutágenos.

Testamos um total de 34 espécies bacterianas comumente encontradas no intestino humano. Essas bactérias foram cultivadas em condições controladas para garantir um crescimento ideal. Para avaliar sua capacidade de decompor os mutágenos selecionados, usamos técnicas de laboratório específicas e medimos a extensão do metabolismo ao longo do tempo.

Resultados da Triagem Bacteriana

Após realizar nossos experimentos, descobrimos que 41 dos 68 mutágenos testados foram significativamente decompostos por pelo menos um tipo de bactéria intestinal. A extensão do metabolismo variou entre diferentes espécies bacterianas, mostrando que nem todas as bactérias são igualmente eficazes em processar esses compostos nocivos.

Algumas bactérias mostraram capacidades particularmente fortes para metabolizar certos mutágenos, enquanto outras foram menos eficazes. Por exemplo, bactérias dos gêneros Bacteroides, Collinsella, Parvimonas e Solobacterium demonstraram uma habilidade notável para decompor vários mutágenos. Em contraste, outras espécies como Veillonella e a maioria das bactérias microaeróbicas foram menos eficientes nesse aspecto.

Avaliando Mudanças na Mutagenicidade

Para investigar mais os efeitos do metabolismo bacteriano nos mutágenos, montamos uma série de testes para medir mudanças na atividade mutagênica após as bactérias intestinais processarem os produtos químicos. Emparelhamos nossos ensaios de metabolismo bacteriano com um teste de mutagenicidade bem conhecido chamado teste de Ames. Isso nos permitiu acompanhar como o potencial nocivo de cada mutágeno mudou após o tratamento bacteriano.

Focamos primeiro no metronidazol, um mutágeno direto. Nossos resultados mostraram que o potencial mutagênico do metronidazol foi significativamente reduzido depois de ser metabolizado por certas bactérias intestinais, especialmente Bacteroides uniformis. Isso sugere que algumas bactérias intestinais podem desintoxicar esse composto nocivo de forma eficaz.

Por outro lado, também exploramos um mutágeno mais forte chamado 4-nitroquinolina-1-óxido (4NQO). Curiosamente, o comportamento do 4NQO foi diferente do metronidazol. Enquanto algumas bactérias reduziram sua mutagenicidade, outras não, levando a uma confusão sobre os efeitos gerais do metabolismo bacteriano nesse composto. Essas descobertas indicam que as interações específicas entre diferentes mutágenos e espécies bacterianas podem levar a resultados variados em relação à mutagenicidade.

Diferenças Interespécies no Metabolismo

À medida que continuamos nossa pesquisa, percebemos que a capacidade das bactérias intestinais de processar esses mutágenos não era uniforme. Por exemplo, algumas bactérias eram muito mais eficazes na decomposição de mutágenos específicos em comparação com outras. Essa variação sugere que a composição geral da microbiota intestinal de um indivíduo pode influenciar significativamente como seu corpo processa produtos químicos nocivos.

Para entender melhor essas diferenças, analisamos as estruturas químicas dos mutágenos que foram efetivamente metabolizados ou não. Descobrimos que certos grupos químicos, como nitro e azo, eram mais suscetíveis à decomposição bacteriana, especialmente em condições anaeróbicas. Isso sugere que as capacidades metabólicas das bactérias intestinais podem ser influenciadas pela composição química dos compostos que encontram.

Papel do Metabolismo Microbiano na Mutagenicidade

A alta atividade metabólica das bactérias intestinais levanta questões importantes sobre as consequências funcionais desses processos. Queríamos determinar se a forma como essas bactérias decompõem mutágenos afeta seu risco geral de causar danos ao DNA. Portanto, medimos as mudanças na mutagenicidade após o metabolismo bacteriano e estabelecemos uma correlação entre os níveis de mutagenicidade e a presença de metabólitos específicos.

Nossa análise mostrou que o metabolismo bacteriano podia levar tanto à redução quanto ao aumento da mutagenicidade, dependendo das espécies envolvidas e do mutágeno testado. Por exemplo, enquanto algumas bactérias converteram o metronidazol em formas menos nocivas, outras produziram metabólitos que mantinham um potencial mutagênico significativo.

Essa complexidade destaca a necessidade de uma compreensão mais detalhada de como as bactérias intestinais interagem com substâncias potencialmente nocivas em nossa dieta e ambiente. Sugere que os tipos específicos de bactérias presentes em nosso intestino podem influenciar nosso risco de desenvolver câncer com base em sua capacidade de metabolizar esses compostos.

Investigando Mecanismos de Alimentação Cruzada

Nós também exploramos o conceito de alimentação cruzada entre as bactérias intestinais, onde uma espécie poderia decompor um mutágeno e produzir metabólitos que outra espécie poderia processar. Essa interação levanta a possibilidade de que algumas bactérias intestinais poderiam trabalhar juntas para desintoxicar substâncias nocivas de forma mais eficaz do que uma única espécie sozinha.

Para investigar isso, projetamos experimentos onde combinamos culturas de diferentes bactérias intestinais conhecidas por metabolizar o mesmo mutágeno. Nossas descobertas mostraram que a alimentação cruzada poderia ocorrer, e que a desintoxicação poderia ser aprimorada pelo compartilhamento de produtos metabólicos. Isso sugere que a microbiota intestinal opera como uma comunidade complexa, onde interações entre diferentes espécies poderiam ter implicações importantes para a saúde.

Interações com o Metabolismo do Hospedeiro

Além de estudar as bactérias, queríamos entender como esses processos microbianos interagem com o metabolismo do nosso próprio corpo. Muitos mutágenos orgânicos precisam de ativação por enzimas humanas para se tornarem nocivos, um processo conhecido como bioativação. Nossos experimentos tinham como objetivo avaliar como as bactérias intestinais e as enzimas humanas juntas influenciam a mutagenicidade geral dos compostos.

Investigamos especificamente o composto pró-carcinogênico 3-metóxi-4-aminoazobenzeno (3-MeO-AAB), que precisa de um tipo específico de ativação para se tornar mutagênico. Descobrimos que, quando esse composto era primeiro processado por bactérias, ele poderia perder seu potencial nocivo antes de ser ativado pelas enzimas humanas. Isso indica que as bactérias intestinais podem desempenhar um papel protetor ao metabolizar certos compostos antes que eles possam causar danos.

Por outro lado, também testamos a capacidade das bactérias intestinais de aumentar a mutagenicidade de compostos já ativados por enzimas humanas. Em nossos experimentos, descobrimos que algumas espécies bacterianas podiam aumentar a mutagenicidade de um composto chamado 2-amino-fluoreno (2-AF) que precisava de ativação pelo fígado. Isso destaca o papel duplo das bactérias intestinais, atuando tanto como protetoras quanto como potenciais aumentadoras da mutagenicidade, dependendo das circunstâncias específicas.

Validação do Modelo de Camundongo Gnotobiótico

Para confirmar nossas descobertas de laboratório em um organismo vivo, usamos um modelo de camundongo gnotobiótico, que permite estudar bactérias específicas em um ambiente controlado. Inoculamos camundongos germ-free com Bacteroides uniformis e, em seguida, os expomos ao pró-carcinógeno 3-MeO-AAB. Monitorando os níveis tanto do pró-carcinógeno quanto de sua forma ativada em diferentes partes do corpo, buscamos entender como as bactérias intestinais afetam o metabolismo do pró-carcinógeno in vivo.

Nossos resultados mostraram que na presença de bactérias intestinais, os níveis de 3-MeO-AAB diminuíram significativamente à medida que se moviam pelo intestino. Isso indica que as bactérias estavam efetivamente decompondo o pró-carcinógeno. Além disso, observamos que a forma ativada do composto foi encontrada apenas em baixos níveis nos intestinos dos camundongos colonizados, sugerindo que a presença de bactérias intestinais reduziu o risco de esse composto se tornar nocivo.

Também encontramos que um metabólito do 3-MeO-AAB, que havia passado por glicuronidação-um processo em que um composto é modificado para ajudar em sua eliminação-estava presente em quantidades similares em camundongos colonizados e germ-free. No entanto, nos camundongos colonizados, os níveis desse metabólito glicuronidado caíram significativamente nos intestinos após algum tempo, provavelmente devido à decomposição pela bactéria. Isso mostra que as bactérias intestinais podem influenciar o metabolismo de pró-carcinógenos e suas formas ativadas em condições reais.

Conclusão

Em resumo, este estudo estabeleceu uma ligação crucial entre as bactérias intestinais e o metabolismo de mutágenos orgânicos. Descobrimos que um número significativo de mutágenos poderia ser decomposto por bactérias intestinais, com diferenças substanciais nas capacidades metabólicas entre as várias espécies. Essas diferenças podem levar a alterações na mutagenicidade e influenciar o risco de câncer.

A pesquisa também destaca a importância de entender as complexas interações entre as bactérias intestinais e as enzimas humanas no processamento desses compostos nocivos. Nossas descobertas sugerem que as bactérias intestinais podem tanto proteger contra quanto aumentar a mutagenicidade de certos compostos, dependendo da composição microbiana específica presente no intestino de um indivíduo.

No futuro, esse trabalho pode abrir caminho para mais pesquisas sobre o papel da microbiota intestinal na prevenção do câncer e o desenvolvimento de estratégias dietéticas e terapêuticas para mitigar os riscos associados aos mutágenos orgânicos. No geral, nossas descobertas ressaltam o papel vital da microbiota intestinal na saúde e na doença e contribuem para nossa compreensão das intrincadas relações entre dieta, ambiente e risco de câncer.

Fonte original

Título: Systematic analysis of gut bacterial carcinogen metabolism and its functional consequences

Resumo: Organic carcinogens, in particular DNA-reactive compounds, contribute to the irreversible initiation step of tumorigenesis through introduction of genomic instability. Although carcinogen bioactivation and detoxification by human enzymes has been extensively studied, carcinogen biotransformation by human-associated bacteria, the microbiota, has not yet been systematically investigated. We tested the biotransformation of 68 mutagenic carcinogens by 34 bacterial species representative for the upper and lower human gastrointestinal tract and found that the majority (41) of the tested carcinogens undergo bacterial biotransformation. To assess the functional consequences of microbial carcinogen metabolism, we developed a pipeline to couple gut bacterial carcinogen biotransformation assays with Ames mutagenicity testing and liver biotransformation experiments. This revealed a bidirectional crosstalk between gut microbiota and host carcinogen metabolism, which we validated in gnotobiotic mouse models. Overall, the systematic assessment of gut microbiota carcinogen biotransformation and its interplay with host metabolism highlights the gut microbiome as an important modulator of exposome-induced tumorigenesis.

Autores: Michael Zimmermann, B. Zhang, G.-E. Maftei, B. Bartmanski

Última atualização: 2024-05-21 00:00:00

Idioma: English

Fonte URL: https://www.biorxiv.org/content/10.1101/2024.05.20.595058

Fonte PDF: https://www.biorxiv.org/content/10.1101/2024.05.20.595058.full.pdf

Licença: https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/

Alterações: Este resumo foi elaborado com a assistência da AI e pode conter imprecisões. Para obter informações exactas, consulte os documentos originais ligados aqui.

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